ORIGEM E HISTÓRIA | DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA | PADRÃO DA RAÇA | SISTEMAS DE PRODUÇÃO | CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS E PRODUTIVAS | DESENVOLVIMENTO E PERSPETIVAS FUTURAS | PRODUTOS DE INTERESSE | AGRUPAMENTOS DE PRODUTORES | SITES SOBRE A RAÇA | BIBLIOGRAFIA |
Espécie: Ovinos
Classificação Oficial: Autóctone
Risco de extinção: Rara (particularmente ameaçada)
Nome: Churra do Campo
Entidade Gestora do Livro Geneológico:
MEIMOACOOP - Cooperativa Agrícola de Solidariedade Social e Desenvolvimento Rural, CRL
Estrada Nacional 233,
7060-385, Penamacor
Telf: 277 377 482
Fax: 277 377 482
E-Mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
URL: http://churra-do-campo.weebly.com/
Censos: 2019
Nª fêmeas: 474
Nº: Machos: 35
Nº Explorações: 6
Secretário Técnico:
Engº Carlos S. C. Rebello de Andrade
Técnico:
Engº Joaquim Carvalho
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ORIGEM E HISTÓRIA
A raça ovina Churra do Campo derivou dos primitivos ovinos do tronco ibérico-pirenaico que povoaram todo o norte montanhoso da Península Ibérica. É uma raça de pequena corpulência (elipométrico e brevilíneo) (12). Em 1972, a raça Churra do Campo representava 2,6 % do total ovino nacional, o que correspondia a 62.215 cabeças (4). Quinze anos mais tarde, ou seja em 1987, a sua população estaria reduzida a metade, ou seja, entre as 30.000 a 40.000 cabeças (DGP, 1987 cit. por (4)). Porém 2 anos depois e após uma avaliação cuidada por parte da Direcção Geral de Pecuária a Churra do Campo parece estar apenas restrita a 400 animais com as características morfológicas dentro das definidas pelo padrão da raça (DGP, 1989 cit. por (4)). Em 1996, técnicos da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior, constataram a existência de cerca de 400 fêmeas, com as características morfológicas definidas pelo padrão da raça, em vários rebanhos heterogéneos (4). Em 1997/8,decidiu então a Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior adquirir um pequeno núcleo de animais como tentativa de criar um núcleo de recuperação da raça, criando um efectivo de 16 fêmeas e 3 machos (4). Em 2004, segundo o relatório do INIAP (8) a raça estava considerada como extinta. Em Projecto Transfronteiriço, ao abrigo do programa INTERREG III – Rotas da Transumância, a Câmara Municipal de Penamacor (CMP) em parceria com a Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) fizeram um esforço para recuperar animais ainda existentes em rebanhos dispersos e em 2007 foram criadas as condições para implementar o Livro Genealógico (L.G.) da raça Churra do Campo.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
O solar da raça está na raia da Beira Baixa com Espanha, Norte do Concelho de Idanhaa-Nova, Penamacor e algumas manchas no Concelho do Fundão (12).
PADRÃO DA RAÇA
O protótipo racial, que consta do Regulamento do Registo Zootécnico da raça, é o seguinte (11):
- Pele - Fina, untuosa e elástica; de cor branca ou ligeiramente amarelada. Velo - Relativamente extenso, só não cobrindo parte da cabeça e a extremidade livre dos membros, quase chega ao solo na época da tosquia; não muito tochado, com madeixas compridas e apinceladas.
- Cabeça - Pequena, deslanada, mas com lã na fronte (popa) e ganachas, perfis craniano e do chanfro rectos, preferencialmente sem cornos nas fêmeas e frequentes nos machos, fortes e espiralados, de secção triangular, olhos grandes; orelhas curtas e horizontais, zonas deslanadas com pigmentação castanha mais ou menos carregada.
- Pescoço - Curto, bem recoberto de lã, podendo apresentar uma ligeira barbela.
- Tronco - Pouco volumoso; linhas dorso-lombar mais ou menos horizontal; peito estreito, com as costelas pouco arqueadas; dorso e rins curtos e de reduzida largura; garupa de pequenas dimensões e ligeiramente descaída: barriga revestida de lã.
- Úbere - Volume e largura médios, com tetos curtos mas bem inseridos.
- Membros - Curtos, finos mas fortes, com unhas rijas; em geral pigmentados de castanho nas zonas deslanadas a partir dos joelhos ou dos curvilhões ou um pouco mais acima.
SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO
Explorada em regime extensivo, em áreas em que o coberto principal é o olival, sobreiro e azinheira, caracteriza-se pela sua tripla função carne, leite e lã não revelando nenhuma aptidão específica embora o leite assuma uma maior importância pelos queijos produzidos na região.
CARATERISTICAS REPRODUTIVAS E PRODUTIVAS
Taxas reprodutivas
As fêmeas são poliéstricas permanentes podendo apresentar períodos de anestro mais ou menos marcados de Março a Julho. Em função do maneio tradicional dos animais verificamse duas épocas de cobrição - Primavera (Abril/Maio) e Outono (Setembro/Outubro).
Os parâmetros reprodutivos foram calculados separadamente nas duas explorações estudadas, sendo os resultados apresentados no Quadro seguinte (14).
Parâmetros Reprodutivos
Os valores de fertilidade, fecundidade e prolificidade, tanto para a exploração 1 como para a exploração 2 estão de acordo com os valores descritos (12), não se verificando diferenças significativas entre explorações. Estes valores de fertilidade, sugerem que embora a população seja pequena, ainda não se observam, aparentemente, efeitos negativos da consanguinidade.
Por outro lado, é de salientar as taxas de mortalidade (ao nascimento) elevadas, que poderão ser devidas ao facto de existirem fêmeas com idade avançada.
PRODUÇÃO DE BORREGOS
Pesos e Ganhos Médios Diários
Apresentam-se os resultados relativos aos pesos ao nascimento (14), estando estes dentro dos valores citados em bibliografia para a raça ChC, não se verificando diferenças significativas entre explorações, e os valores de ganhos médios diários (GMD) nas duas explorações e no total dos borregos, anulando o efeito exploração.
Peso ao nascimento médio e desvio padrão entre sexos nas explorações 1 e 2 (14)
Valores de Ganhos Médios Diários (GMD) para machos e fêmeas nas explorações 1 e 2 (14)
Para o GMD entre os 30-70 dias para machos os valores são mais baixos do que para fêmeas devido a um número reduzido de dados para os machos na exploração 1.
Borrego
CARACTERIZAÇÃO DAS CARCAÇAS
Para a caracterização das carcaças, o abate de borregos com idades próximas dos 45 dias (grupo 1) está dentro dos valores para o peso ao abate e peso de carcaça fria definidos para o Borrego da Beira – IGP. Estes, quando comparados com uma idade ao abate superior, 120 dias (grupo 2), apresentam valores (Quadro 5) superiores no rendimento de carcaça corrigido, embora não fossem observadas diferenças significativas. Observaram-se diferenças significativas no rendimento da carcaça quente, carcaça fria e no enxugo, sendo sempre superiores no grupo 1 (14).
Carcaças de borregos da raça Churra do Campo abatidos a diferentes idades (14)
Efeito da Idade ao Abate em diversas características da carcaça (14)
Relativamente às relações musculo/osso (Quadro seguinte) no total da carcaça, não foram verificadas diferenças significativas.
Na relação gordura intermuscular/subcutânea (GI/GS) já se observam diferenças significativas, com valor superior para o grupo com maior idade ao abate.
O grupo 1, apresenta valores de gordura subcutânea, intermuscular, pélvica, renal (GPR) e, consequentemente o seu somatório, gordura total (Gord. Total) superior.
Efeito da Idade ao Abate (45 vs 120 dias) na composição da carcaça (14)
A proporção das diferentes peças da carcaça, as relações músculo/osso e gordura intermuscular/subcutânea, são descritas no próximo Quadro. Não foi significativo, como se pode observar, o efeito da idade ao abate na proporção das peças da carcaça (em % Carcaça) sendo excepção o caso da costeleta anterior e da pá em que se verificaram diferenças significativas (P<0,05).
Efeito da Idade ao Abate (45 vs 120 dias) na percentagem da peça na carcaça, relação músculo/osso (M/O), gordura intermuscular/subcutânea (GI/GS) e n= número de animais (14)
Para a relação músculo/osso verificam-se diferenças significativas na perna e aba das costelas com valores superiores para os borregos com idade ao abate até aos 120 dias.
Para o grupo com idade ao abate até os 45 dias verificam-se valores superiores no lombo e costeleta. Nas outras peças não foram observadas diferenças significativas.
Para a relação gordura intermuscular/subcutânea, verificam-se diferenças significativas na perna, sela, costeleta, pá e aba das costelas, sendo os valores sempre superiores para o grupo 2.
Para os grupos 1 e 2 (Quadro seguinte), não se verificam diferenças significativas entre eles. Os valores observados encontram-se próximos dos referidos pelos autores para outras raças. Para os valores de proteína, verificam-se diferenças significativas sendo o grupo 2 o que apresenta valores superiores.
Efeito da idade ao abate (45 vs 120 dias) nos valores de Proteína Bruta (PB), Matéria seca (MS) e pH; n= número de animais (14)
PRODUÇÃO DE LEITE
A produção de leite, foi estimada separadamente nas duas explorações, de acordo com a época de partos. Nos Quadros seguintes, apresentam-se os resultados obtidos para a exploração 1 e 2, respetivamente (14).
Ordenha
A exploração 1, com partos na Primavera apresenta valores médios de produção (31,2L) inferiores em relação à exploração 2 com partos no Outono e Inverno (42,1L vs 38,53L).
Valores médios da produção de leite e sua composição, desvios padrão, mínimos e máximos da quantidade total e ordenhada para a exploração 1 com partos na Primavera (14)
Valores médios da produção de leite, desvios padrão, mínimos e máximos da quantidade total e ordenhada para a exploração 2 com partos no Outono e Inverno (14)
A quantidade total de leite, está dentro dos valores referidos (12), embora seja de referir que na altura do contraste, as temperaturas ambientais já eram elevadas (mês de Junho), influenciando o valor nutritivo das pastagens o que podia ter influenciado negativamente os valores de produção.
Para a exploração 2 os valores de produção, comparativamente com a exploração 1, são bastante superiores o que pode ser explicado pela disponibilidade alimentar influenciada pela época de partos.
Na exploração 2 não foi possível proceder às análises dos teores em gordura, proteína e lactose, devido ao facto de se realizar a ordenha manualmente e apenas para efeitos de contraste, não sendo uma rotina, o que influenciou o comportamento animal bem como os valores iniciais obtidos em laboratório.
PRODUÇÃO DE LÃ
Em relação à caracterização da fibra lanar, foram determinados os parâmetros de Rendimento em Lavado, Diâmetro da fibra, Curvatura e Peso do Velo (Quadro seguinte)
No ano de 2005, das análises efectuadas determinaram-se os valores do comprimento médio da fibra (161,1 mm) e da resistência (26,35 N/Ktex).
Características médias, desvio padrão e número de observações, do velo e da fibra lanar na tosquia de 2009, Rendimento em Lavado (RL), Diâmetro (Diâm), Curvatura (Curv) e Peso do Velo (Pvelo) entre sexos; n= número de animais (14)
Churra do Campo
DESENVOLVIMENTO E PERSPETIVAS FUTURAS
Face à grande concorrência no queijo de ovelha e à sua descaracterização, pela utilização de leite de ovelhas mais produtivas que se reflectem na composição química do leite e consequentemente na qualidade do queijo produzido, as raças autóctones são essenciais à manutenção da biodiversidade, sistemas de produção, manutenção das populações e produtos locais de qualidade.
Perspectiva-se um aumento gradual do efectivo para o preservar para o futuro e assim em conjunto com outras raças autóctones contribuir para os produtos sobejamente conhecidos como oriundos da Beira Baixa.
Nesta região, produzem-se vários tipos de queijo de ovelha ou de mistura com leite de cabra, dos quais o mais afamado é o queijo à ovelheira denominado “Queijo de Castelo Branco”, um queijo de pasta mole, mesmo amanteigado, muito saboroso, idêntico ao da Serra da Estrela, com o qual se pode confundir. Dentro dos queijos feitos à cabreira temos o “Amarelo” e o “Picante” da Beira Baixa.(7).
Estes queijos têm Denominação de Origem Protegida por Despacho 4/94, DR. II Série, 26/01 – Reg. CE 1107/96, de 12/06 (7).
Como produto Identificação Geográfica Protegida existe também o “Borrego da Beira” por Desp. 57/94, DR. II Série de 15/02 – Reg. CE 1107/96 de 12/06 e Desp. 2314/99, DR. II Série de 9/02 (7).
PRODUTOS DE INTERESSE
- Queijo Castelo Branco – DOP
- Queijo Amarelo – DOP
- Queijo Picante - DOP
- Borrego da Beira – IGP
AGRUPAMENTOS DE PRODUTORES
Cooperativa de Produtores de Queijo da Beira Baixa/Idanha - a - Nova, C. R. L.
Zona Industrial, Lt. 5
Murteiras Redondas
6060-182 IDANHA-A-NOVA
Telefone: 277 200 230 Fax: 277 200 239
SITES SOBRE A RAÇA
http://www.ovinosecaprinos.com
http://autoctones.ruralbit.com/?pais=pt
http://www.sprega.com.pt
BIBLIOGRAFIA
- (1) Carvalho J., R. Marques, A.J.T. Galvão. C.S.C. Rebello de Andrade y J.P.F. Almeida, 2010. Caracterização da população actual da raça ovina “churra do campo”, I – Caracteres 14 produtivos e reprodutivos. 7º Congresso Ibérico sobre Recursos Genéticos Animais. Recinto Ferial Luis Adaro de Gijón (Espanha) , 16, 17 e 18 de Setembro de 2010.
- (2) Carvalho J., C.S.C. Rebello de Andrade y J.P.F. Almeida, 2010. Caracterização da população actual da raça ovina “churra do campo”, II – Características da carcaça de borrego. 7º Congresso Ibérico sobre Recursos Genéticos Animais. Recinto Ferial Luis Adaro de Gijón (Espanha) , 16, 17 e 18 de Setembro de 2010.
- (3) Carvalho J., C.S.C. Rebello de Andrade y J.P.F. Almeida, 2010. Caracterização da população actual da raça ovina “churra do campo”, III – Composição e Qualidade Organolética da Carne de Borrego. 7º Congresso Ibérico sobre Recursos Genéticos Animais. Recinto Ferial Luis Adaro de Gijón (Espanha) , 16, 17 e 18 de Setembro de 2010.
- (4) DRABI - Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior, 2004. “Valorização dos Territórios da Europa do Sudoeste através dos Caprinos e Ovinos”. Castelo Branco.
- (5) D.G.V.- Direcção Geral de Veterinária, 2007. Regulamento Oficial de Contraste Leiteiro. http://docentes.esa.ipcb.pt/churra_do_campo/contrasteleiteiro.pdf . Consultado em 05-01-2010
- (6) D.G.V.- Direcção-Geral de Veterinária, 2007a. Boletim Estatístico N.º 13. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas.
- (7) D.R.A.P.C. - Direcção Geral de Agricultura e Pescas do Centro. Produtos Tradicionais de Qualidade na Região Centro. http://ptqc.drapc.min-agricultura.pt/home.htm consultado em 02/10/ 2009
- (8) INIAP/EZN, 2004. Recursos Genéticos Animais em Portugal – Relatório Nacional. Junho, Vale Santarém. Portugal.
- (9) Rangel M. T., P. A. R. Almeida, J. C. Mateus, V. Alves, J. Matos, Â. Martins, 2007. Biologia molecular e ciência animal: uma combinação prometedora. I Jornadas Cientificas do Centro de Ciencia Animal e Veterinária (CECAV) da UTAD. 5 e 6 de Março. Vila Real. Portugal.
- (10) Rebello de Andrade, C. S. C.; Várzea Rodrigues, J. P.; Carvalho, J.N.; Pinto de Andrade, L., 2004. Portugal Sheep Breeds – Wool Characteristics. European Conference “Wool of Europe – East and West”. Namest nad Oslavcu (CZ Republic).
- (11) Rebello de Andrade, C.S.C.., 2010. Raça Ovina Churra do Campo. Página Web http://docentes.esa.ipcb.pt/churra_do_campo/ Consultado em 05/03/2010
- (12) Sobral, M.; Antero, C.; Borrego, J.D.; Nabais Domingos, A., (1987). Recursos Genéticos: raças autóctones - espécies ovina e caprina. Direcção Geral da Pecuária. Lisboa.
- (13) Teixeira, A. J. C., 1991. Contributo para a classificação etnológica dos ovinos Churros Portugueses mediante distâncias morfométricas do esqueleto cefálico e do osso. - Vila Real : [s.n.], 1991. - XI, 143 p. : il., 4 est. color. ; 29 cm.
- (14) C.S.C. Rebello de Andrade (2012). Raça Ovina “Churra do Campo”. Caracterização da população actual. Edições IPCB. ISBN: 978-989-8196-30-9