Coexistem hoje dois sistemas distintos de exploração da raça: o sistema de semiestabulação tradicional e o sistema de exploração extensivo, este generalizado na região fora do solar e num cada vez maior número de explorações do solar da raça.
Longe vão os tempos em que vigorava apenas o sistema tradicional de semi-estabulação, em que os animais adultos “não trabalhados”, e os de trabalho, nas merecidas folgas, eram levados para os lameiros (ou cerrados, como se diz em Miranda) – uma vez por dia no inverno e duas vezes diárias no Verão. As crias ficavam no estábulo e o momento do reencontro, de mães e filhos, ao final de um dia de inverno, ficou indelevelmente marcado por um parágrafo, de cariz poético, escrito no início do século XX: “Este sentimento de passado remotíssimo mais se acentua no inverno, que é a melhor estação para bem comprehender a Terra de Miranda, cuja paisagem é sobretudo uma paisagem hiemal. Ao cair de uma tarde de Dezembro, sob um céu baixo e pardacento, “céu de neve” como lá dizem, quando os nevoeiros habituaes da temporada, adensando-se, tornam as formas das cousas vacilantes e incertas, à hora que voltam dos lameiros as grandes manadas de vacas criadeiras, em lentas, estiradas filas, atroando os ares resonantes com os seus mugidos prolongados e dolentes, afigura-se ao estrangeiro que retrocedeu dezenas de séculos, que através de rudes campos primitivos veio dar consigo nalgum antigo villar hispano-romano, talvez mais atrás ainda, em qualquer logarejo do vetusto sertão ibérico, numa phase primordial da agricultura antes do período pastoril, nas idades em que o boi, primeiro amigo do homem, era o seu companheiro e único auxiliar na luta contra a terra, madrasta, ingrata e infecunda”
Nos dias de hoje é ainda possível “provar” desta estimulante sensação, de forma menos inebriante, pois as grandes manadas já não regressam aos estábulos por debaixo ou junto das casas de habitação; elas são apascentadas durante uma jornada diária e regressam, para amamentar as crias, por norma, para estábulos fora dos aglomerados populacionais.
Apenas rebanhos de efetivos reduzidos (menos de 10 CN – classe 3 do REAP) são ainda aceites nas Aldeias; diga-se em abono da verdade que não deslustram, pelo contrário, embelezam o Lugar, e não são visíveis sinais de incomodidade nem de insalubridade. Neste tipo de exploração, o Criador é um verdadeiro Agricultor, que cultiva para consumo dos animais, e da família, praticamente tudo o que a terra pode dar: feno, ferrejo, nabal, milho, abóbora e outras hortícolas, que vai dando à manjedoura, durante todo o ano, consoante a época e a necessidade de suplementar o pastoreio.
Apenas alguns destes Criadores/Agricultores utilizam a força de tração dos animais para produzir trabalho, e os que o fazem é quase só para atividades a que a força motorizada se adapta mal (semear batatas, lavrar vinha e pouco mais). Pelo exposto se pode concluir que uma das potencialidades da raça – trabalho/tração já é pouquíssimo aproveitada, o que não nos leva a considerar a raça mirandesa como apenas produtora de carne, porque, como disse um pensador, que não podemos precisar “um dos maiores erros da humanidade é pensar que os tempos passados não podem voltar jamais”. Considerar a hipótese de futura utilidade da capacidade de trabalho para a raça mirandesa pode parecer ridículo, mas “do sublime ao ridículo, vai apenas um passo” ; o inverso talvez se caminhe em dois ou três, pensamos nós.
No sistema de exploração extensivo, único fora do solar, e em crescimento nos Concelhos do Planalto Mirandês, os vitelos acompanham as mães, em pastoreio, até completarem a idade de 5 - 7 meses, sendo depois desmamados e engordados com recurso a fenos e cereais de colheita própria, triturados, ou concentrado aprovado pela entidade certificadora da DOP Carne Mirandesa (concentrado de marca mirandesa). As mães praticam o pastoreio permanente e são suplementadas com fenos de aveia ou de erva, apenas nos meses de Inverno e durante o pico do verão